Governança deve ser uma preocupação de empresas familiares

Governança deve ser uma preocupação de empresas familiares

Cerca de 90% das empresas do Brasil possuem perfil familiar, de acordo com dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Essas companhias são responsáveis por mais da metade do PIB do país (65%, aproximadamente) e empregam cerca de 75% dos trabalhadores brasileiros. Segundo a edição de 2021 da Pesquisa Global de Empresas Familiares, da PwC Brasil, 60% das organizações familiares brasileiras têm a expansão para novos mercados e segmentos de clientes como uma prioridade para os próximos anos.

Apesar do alto número de empresas do gênero no país e das expectativas de crescimento, a publicação “Análises e Tendências – Empresas Familiares”, do Instituto Brasileiro de Governança Corporativa (IBGC), indicou que somente de 3% a 4% dos negócios com perfil familiar nacionais sobrevivem à terceira geração.

A entidade aponta a falta de mecanismos para a mediação e resolução dos conflitos de interesse de familiares, que são naturais a esse tipo de empresa, e a desatenção quanto ao processo sucessório como principais “causas mortis” das companhias familiares. Por isso, fundamental a preocupação com a governança, que deve ser um foco de todas as empresas, de pequenas e médias a grandes conglomerados, passando pelas organizações familiares, independentemente de seu tamanho.

O próprio IBGC define a governança familiar: “sistema pelo qual a família desenvolve suas relações e atividades empresariais, com base em sua identidade (valores familiares, propósito, princípios e missão) e no estabelecimento de regras, acordos e papéis. Seu objetivo é obter informações mais seguras e mais qualidade na tomada de decisões, auxiliar na mitigação ou eliminação de conflitos de interesse, superar desafios e propiciar a longevidade dos negócios”.

Muitas companhias já reconheceram a importância dessa temática. A 4ª edição do estudo “Retratos de Família”, da KPMG, divulgado no fim de 2021, indicou que o desenvolvimento e a manutenção de boas práticas de governança são essenciais para o sucesso da empresa familiar. 85% das organizações que participaram do levantamento consideram esse ponto importante ou extremamente importante – apenas 1% das respondentes o julgaram irrelevante.

As principais estruturas de governança identificadas pela pesquisa da KPMG nas empresas familiares, em relação a risco, compliance e controle, foram auditoria independente (78%), Código de Ética (79%) e auditoria interna (54%). Ao mesmo tempo, menos da metade (47%) das companhias consultadas afirmaram possuir um processo estruturado de identificação, avaliação e gerenciamento de riscos corporativos. Sinal de que o caminho já está sendo percorrido, mas precisa ser aprimorado.

Uma das recomendações do IBGC para evitar o desaparecimento precoce das empresas familiares é lançar mão do Protocolo Familiar, uma espécie de acordo firmado entre todos os membros da família empresária, com a descrição de valores, princípios, deveres, direitos e regras sobre o relacionamento entre os próprios familiares e entre eles e o negócio. Trata-se de um documento que deve ser atualizado com alguma frequência, ainda mais em tempos de mudanças tão velozes como as que verificamos atualmente, mas que traz benefícios como o fortalecimento de princípios orientadores da família, amadurecimento dos membros envolvidos nas discussões, reflexões sobre as expectativas e planos da família para o futuro e clareza de papéis, de acordo com o IBGC.

As empresas familiares são uma espécie de tradição brasileira e tenho certeza de que esse cenário permanecerá por anos a fio. Mas para que sobrevivam, precisam se adequar e estar atentas às novas tendências. Afinal, a maturidade vai sendo desenvolvida e se formatando nas práticas cotidianas. Para que se chegue a ela, entretanto, o primeiro passo deve ser dado.

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